Correndo com Raphael Bonatto. Reflexões!

Corremos ontem aqui com Raphael Bonatto, ultramaratonista de Curitiba que está correndo 27 maratonas em 27 dias consecutivos, nas 27 capitais brasileiras. Largamos as 5:10h da manhã e durante todo o percurso corredores acompanharam o Raphael nesta que foi a 18a maratona das 27 programadas. O evento foi um sucesso, mas fiquei pensando no final: o que faz um grupo de pessoas acordar em plena madrugada (eu estava de pé as 3:50h) de uma sexta feira de trabalho normal para ir fazer uma, aparentemente, atividade chata, repetitiva e sem nenhum objetivo específico (e não remunerada!!)?

Fiquei pensando porque tantos se sacrificaram para participar e ajudar o Raphael nesta 1a maratona de Natal. Havia blogueiro que correu só um km e foi somente para conhecer o Raphael; maratonista que levou máquina fotográfica com a bateria descarregada (só notou na hora de bater a primeira foto); marido que convenceu a esposa a participar mesmo com enxaqueca; esposa que convenceu o marido a correr e ficou só no carro no apoio; corredor que estava machucado e com a dúvida se correria ou se ia dar apoio, mas que no final foi o único que fechou os 42km com o Raphael; técnico que estava louco para correr mas que priorizou o bem estar do grupo e ficou a maior parte apoiando distribuindo água; corredor sem estômago que se esforçou para manter o ritmo (e Raphael exclamou: "e eu é que sou louco!!??"); corredoras que deixaram maridos e crianças dormindo para correr os 6 primeiros kms (mesmo sabendo que a televisão só chegaria nos 6 últimos kms!!); ciclista que não correu mas que serviu de apoio mais próximo dos corredores, etc.
Em um mundo cada vez mais capitalista onde se coloca o dinheiro, o lucro ou ganhos pessoais sempre em primeiro lugar, nossa "maratona" não teve nem medalha de participação, mas o sucesso foi total. Não vi (escrito) e nem ouvi nenhuma reclamação. Ninguém quis aparecer mais que os outros e todos estavam focados apenas na corrida pelo simples prazer de correr.
Neste desafio aprendi a diferenciar quem gosta e quem não gosta de corrida de rua (quando eu dizia que havia um ultramaratonista correndo 27maratonas em 27dias, quem gosta logo elogiava; quem não gosta dizia "que loucura! para que isso?).

Alguns que não gostam de correr diziam que isso é um exagero e que ele estava destruindo o corpo. Mas a imensa maioria das pessoas não vive exatamente de forma exagerada: comendo demais, fumando exageradamente, bebendo em demasia, trabalhando feito louco, dormindo menos do que precisa, etc. Pelo menos nosso vício (correr) é um dos mais saudáveis!!!
Enfim, por que fizemos isso? Por que acordamos tão cedo neste dia? O que nos fez ficar tão felizes ao término de uma ação cansativa e que machuca bastante as fibras musculares depois de tantos kms? Por quê? Por quê? Por quê?
Não consigo chegar a uma resposta exata, se é que existe apenas uma. Creio que cada um de nós que participou do evento tenha motivos diferentes (e cada um que não participou tenha também seus motivos e prioridades) e por isso que não consigo chegar a uma única resposta. Mas o mais importante é que, se ganhamos ou se perdemos, "o importante é que emoções nós sentimos" e quando muitos anos passarem e nós nos encontrarmos em algum lugar, quando nossos músculos não nos obedecerem mais e não podermos mais participar de um desafio destes, nossas pegadas ainda estarão no percurso (pelo menos em nossas mentes) e poderemos nos sentar e nos lembrar do que fizemos um dia. Afinal, viver feliz não é construir memórias positivas?

Keep running!