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terça-feira, 27 de julho de 2010

Um treino típico.

Sai hoje para o treino usual antes do sol nascer. No caminho, as luzes ainda acesas me alertavam que o sol dormira mais naquele dia (ou eu dormira menos?). A usual briga com os carros naquela hora não existia e poucos ônibus ainda começavam a transitar. Já na proximidade do shopping, correntes de segurança evitavam a entrada indesejada de qualquer treseunte ao mesmo tempo que, se falassem, diziam para mim "isso é hora de alguém estar correndo? Não vem para cá não, corre para lá!". Poucas pessoas passavam. Paradoxalmente, as que estavam vestidas adequadamente para correr/caminhar passavam mais lentamente que aquelas com sapatos e sandálias que iam àquela hora já para o trabalho. Na parada de ônibus, uma mulher com uma roupa curtíssima esperava o transporte; não sei se estava no final ou no início da jornada de trabalho. Passo pensando comigo se é falta de roupa ou de oportunidade na vida. Ainda falam que são mulheres de "vida fácil". Comparativamente, fácil mesmo é meu treino. Continuo correndo de certa forma econômica, guardando energias para os quilômetros finais do treino de 15km. Mais adiante, dois homens vasculham o lixo de um posto de gasolina como quem procura a chance perdida das suas vidas. Lamento pois sei que não encontrarão ali. Alegro-me ainda mais com meu treino e minha vida. Uma gordinha nas proximidades de um ônibus parado grita olhando em minha direção: "corre, corre!". Quando penso em aumentar o ritmo após aquelas palavras de incentivo, noto que, na verdade, elas são dirigidas para uma mulher retardatária na ação de tomar o ônibus. O motorista se cansa de esperar e começa a acelerar; a gordinha grita, agora para o motorista, "espera!". Ele, obedientemente, espera e as duas sobem no ônibus. Continuo meu treino pensando que a maioria das pessoas do mundo não têm a paciência do motorista e estão sempre correndo, não no sentido literal da palavra, mas correndo para lugar nenhum. Desfazendo hoje o que fizeram ontem, até o dia em que param de nao fazer nada, inclusive de respirar. Uns vinte minutos depois, passo novamente na parada de ônibus e a mulher de roupa curta continua lá. Penso que ela perdeu o bonde. O bonde da vida. Só agora chego em um semáforo vermelho e lembro de uma palestra do Padre Fábio que sugere que diante de um sinal vermelho não fiquemos tristes por ter que esperar, mas alegremo-nos por outros que estao passando, pois quando está vermelho para nós, está verde para alguém. Lembro também que, como o mesmo padre diz, sou humano demais para compreender. Os quilômetros finais do treino  estão se aproximando e agora passo a não mais observar com tantos detalhes meu laboratório público das ruas. Concentro-me mais no meu ritmo, para terminar o treino conforme planejado. Foi mais um dia típico. Amanhã será outro treino, novos personagens de uma história que se repete. Lembro que um treino na esteira nunca me permitirá examinar tão profudamente o habitat desse estranho animal chamado ser humano.

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