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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Maratona de Buenos Aires 5

Passei a marca da meia maratona com 1h46m40seg, um pouco abaixo do esperado (1h47min30seg). Como sempre, pensei comigo mesmo: agora é que diferenciaremos os homens das crianças, ou seja, a partir daquele momento, os que estivesse melhor treinados manteriam o ritmo ou até aumentariam a velocidade e os que não tinham treinado suficientemente iriam cansar cada vez mais, podendo até andar durante alguns trechos. Aliás, a partir do km 24, comecei a perceber os primeiros andarilhos e meu ritmo continuava dentro do esperado. Meu pesadelo, como sempre, me aguarda apenas depois do km 32, no que eu chamo dos quilômetros nunca antes navegados (meus treinos longos são de, no máximo, 32km, de modo que os 10 últimos quilômetros só são corridos na maratona). A essa altura eu já lembrava das palavras de um colega maratonista que em Paris me desejou “... espero que você não sofra tanto depois do km 32”. Ao contrário do que pensei inicialmente, não chegamos até a Calle Caminito, famosa rua multicolorida, pegamos à esquerda da Olavarria e depois na Martin Rodriguez em direção à Pedro de Mendonza, já margeando o Rio de La Plata. Nessa altura, já em direção a Puerto Madero, um ciclista dava assistência a um maratonista que já vinha no meu encalço a algum tempo, distribuindo água, barrinha, gel, etc. A organização pedia a todo momento que o ciclista saísse do percurso pois era proibido já que poderia machucar algum corredor. Já perto de Puerto Madero, tive ainda que correr até o ciclista para avisá-lo que a empunhadura da bicicleta tinha caído. Um corredor atrás, pegou para e devolveu para ele. Uns 100m depois, o ciclista passou por mim já com a empunhadura no lugar e eu fiquei esperando um “Gracias!”, mas ele provou que era argentino e passou direto sem nem olhar de lado para mim. Ok, voltei para minha concentração, na caçada ainda dos rapazes americanos que mantinham um bom ritmo. Porém, por volta do km 24, o rapaz menor ficou para trás, apesar dos incentivos do maior que insistia que ele mantivesse o ritmo. Entramos no bairro de Puerto Madero que tem esse nome em homenagem ao comerciante Eduardo Madero que em 1892 fez o projeto do porto com semelhanças ao Porto de Londres. Atualmente é o bairro mais jovem de Buenos Aires, urbanizado em 1989, com vários hotéis cinco estrelas e vários bons restaurantes. Tem quatro diques e a maratona passou por trás do três primeiros, cruzando exatamente entre o 3º e 4º diques. Relembrei eu há uns 2 anos eu estive correndo sozinho por ali, apenas evitando os cachorros, durante uma viagem a trabalho. Ao contrário daquele longínquo dia, agora tinha muita gente nas ruas incentivando, apesar da chuva que nos acompanhava desde a largada no Parque Roca.
Por volta do km 28 o segundo rapaz americano que até então estava me servindo como pacer ficou também para trás. Psicologicamente eu estava ótimo, pois todos estavam ficando e eu continuava mantendo meu ritmo. Entretanto, a lembrança da maratona de Paris não saia de minha mente (lá eu cansei e o ritmo começou a baixar depois do km 32), mas eu sabia que essa segunda parte do percurso, ao contrário de Paris, era toda plana, o que me ajudaria a manter o ritmo. Com a queda do segundo americano, tentei achar outro alvo, mas todos iam ficando para trás. Um rapaz alto e branco, com uma pele quase de porcelana, com bochechas vermelhas e cara achatada, que depois descobri que era alemão, parece que usava minha técnica e se aproximou para correr comigo. Eu, de caçador, virei caça. Ok, vamos então correr juntos até onde você agüentar, pensei. No km 30, escutei alguém falando em português: “agora só falta uma corridinha de 12km”. Olhei de lado e encontrei um senhor com pouco menos de 50anos. Concordei com ele e decidi que ele seria meu alvo caso o alemão ficasse para trás. Isso aconteceu no km 32 e eu fui atrás do brasileiro. Entre os km 34 e 36, passamos na frente do Aeroparque Jorge Newbery, um pequeno aeroporto de Buenos Aires que eu, até então, desconhecia que existia. Atingi minha barreira psicológica dos 32km sem dificuldades e mantendo o ritmo, mas no km 35 desanimei quando vi que passei o quilômetro para 5:18min, seguindo o km 36 para 5:22min. Recusei-me a deixar tudo ir por água abaixo agora que eu estava a somente 6km da chegada. Bolei então uma nova tática: correr o que desse até mais ou menos 800m e quando eu visse a marca do km eu faria um pequeno sprint para baixar um pouco o tempo e tentar ficar o mais próximo possível da meta. O brasileiro passava de mim, abria uns 15metros e eu passava dele novamente nos 200m finais de cada km. Com isso consegui, pelo menos, não baixar tanto o ritmo, mas eu realmente já estava cansando. O brasileiro também cansou e ficou para trás. Cheguei então em um grupo de 2 homens e 3 mulheres. Aparentemente os homens eram os técnicos e estavam correndo para incentivar as meninas. Mais uma vez, aproveite o incentivo e não deixei elas passarem de jeito nenhum. Como resultado, voltei a correr dentro da meta, passando o km 41 para 5:07min e o último km para incríveis (para mim) 4:57min. Eu simplesmente não acreditei que após correr 41km, ainda conseguia correr 1km abaixo de 5 minutos. O final era uma grande reta no Parque de Los Niños. Vi então um pórtico da Adidas (patrocinadora) e apertei o passo. Só então percebi que aquele era o marco do km e não da chegada: ainda faltavam os malditos 195 metros finais. Xinguei a rainha da Inglaterra por ter adicionado aqueles metros finais à maratona da olimpíada de Londres, desacelerei um pouco durante alguns metros e voltei a acelerar em direção à chegada. As meninas com seus técnicos tinham acelerado antes de mim e agora também estavam mais lentas. Passei a linha de chegada sem nem perceber onde estavam os fotógrafos (por isso fiquei sem foto minha na chegada) e parei o cronômetro. Respirei um pouco e quando olhei para o tempo, dei uma risada de felicidade e de meta alcançada: 3 horas 35 minutos e 58 segundos. Quase 3:36h, mas dentro dos 3:35h que tracei como meta. Sai rindo feito criança para buscar minha merecida medalha.

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