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sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Relato da maratona (4): da missa à largada.

Às 7:10h fui pela segunda vez ao banheiro e andei um pouco para fazer o reconhecimento dos locais que não tinha visto ainda. O Forte Wadsworth, na Staten Island, era o local da concentração dos 38 mil corredores e foi dividido em três locais diferentes de acordo com as cores (verde, azul e laranja). Até esse momento eu só conhecia a parte verde (a minha). Andei um pouco, além dos banheiros químicos, onde encontrei um mapa de todo local e identifiquei o local da enorme tenda onde aconteceria a missa, marcada para as 8:15h - feita por corredores para corredores, como anunciado antes. Fui até lá, era entre as divisões verde e laranja e já estava cheia de gente sentada no chão, aguardando o horário. Diferentemente da outra tenda que fiquei, o chão dessa não era totalmente de grama, tendo uma parte com um pouco de lama o que limitava o espaço para sentar. Passei direto e vi do lado de fora a placa de "Services at 8:15h" (missa às 8:15h), certificando-me que estava no local certo. Só que era ainda 7:30h e eu tinha que andar um pouco mais, para o tempo passar. O sol já brilhava e sentei na borda da calçada, cuidadosamente localizando-me em um local que assegurava os raios solares em meu corpo (o famoso, banho do sol, que naquele frio, até que ajudava). Ali fiquei durante mais uns 15 minutos e retornei para a área verde, percebendo então que, naquele momento, já existiam filas nos banheiros químicos, ou seja, o café da manhã com muito líquido estava fazendo efeito agora. Entrei na fila novamente, mais para passar o tempo do que por necessidade miccional. Foi o terceiro xixi da manhã. Voltei para a área do café e peguei mais uma barrinha de chocolate e só então notei que aquelas pessoas que logo cedo passaram por mim com umas espécies de almofadas pretas grandes eram na verdade massagistas (uns dez, mais ou menos) e que tinha uma fila enorme de corredores para fazer massagem. Pensei em entrar na fila, mas já se aproximava de 8:15h e achei que ajuda divina era certamente mais importante do que a ajuda manual dos massagistas. Voltei para o local da missa e notei que já tinha começado, inclusive não havendo mais disponível as folhinhas com as músicas (em inglês, claro). Fiquei por ali, só escutando os depoimentos (primeiro de um padre, e mais outro, e outro, todos corredores atuais ou passados) e achei uma folhinha no chão de algum corredor que ou desistiu ou já sabia as músicas. Peguei e tentei acompanhar. Eu realmente não conhecia as músicas cantadas, mas teve uma interessante onde o padre cantor dizia algo do tipo "nós somos as uvas e Ele é a parreira", depois "nós somos os galhos e Ele é a árvore" e assim sucessivamente até que, após acabar a letra oficial da música, ele inventou algo como "nós somos os corredores e Ele as pontes" (seriam cinco pontes para corrermos naquele dia). Ficou legal, descontraindo todos. Rezar o "Pai Nosso" em inglês eu não consegui e foi em português mesmo. A comunhão também foi interessante: dividimos literalmente o pão; não óstias como de costume, mas aquele pão do café da manhã que, após consagrado, foi repartido de acordo com a vontade de cada um (íamos lá e tirávamos o pedaço que queríamos). Ao final, não gostei muito da música "Deus salve a América". A maratona de NY tem mais de 10000 corredores de outros países e deixou de ser um evento americano para ser um evento mundial e achei que aquela música naquele momento não estava adequada, mas o patriotismo americano imperou, não sei como eles não cantaram o hino nacional. Terminada a missa, voltei para a área verde pois os alto falantes toda hora avisavam em inglês e espanhol que "Você está na área XXX, se seu número não é dessa cor, você está na área errada". Dizia também: "Durante a largada, a força aérea americana irá sobrevoar o local; quando você vê-los, bata palmas". Até aquele momento, continuava com 4 camisas e dois casacos, mas já se aproximava a hora de colocar tudo no saco dado na Expo e que serviria como identificador quando eu o deixasse no caminhão da UPS designado para mim. Às 9h, aproveitando um banheiro sem fila, fui pela quarta vez ao banheiro (dá para notar que eu estava decidido a não ir ao banheiro durante a maratona, não?). Faltava uma hora para a largada e fui então fazer alongamentos, ainda com as várias roupas protegendo-me do frio. Às 9:40, tirei as camisas, ficando apenas com a de mangas longas, a de manga curta com o número no peito, uma Hering que iria jogar fora ainda na largada e o casaco descartável que comprara na Expo por 7 dólares. Coloquei o casaco e uma camisa no saco e entreguei no caminhão 38, esperando encontrá-lo no Central Park, após o término da prova. A essa altura, os team leaders (pessoas que correm com umas plaquinhas com o tempo final que eles vão fazer e que servem para lhe orientar se está no ritmo correto) já estavam em seus devidos lugares. Achei a de 4h (era uma mulher) e fiquei perto. Mas, olhando do lado, encontrei uma área do lado direito da ponte que não tinha quase ninguém e onde eu poderia fazer uns trotes e ligar o relógio GPS. Passei uma cerca e fui para lá. Quando estava dando meus trotes e vendo o ritmo de 5:20min/km eis que surgem uns negões vindo acompanhados de polícia e pessoal da organização da maratona. Não pensei duas vezes, tirei a máquina fotográfica da pochete e bati algumas fotos na certeza que aqueles eram "os caras", o pessoal da elite, aonde certamente estava o campeão. Dei um zoom em um negão que achei parecido com Paul Tergat, nosso conhecido campeão de São Silvestres e que tinha ganhado a maratona em 2005. Não consegui identificar nenhum brasileiro, mesmo revendo depois com calma as fotos. Eles se foram e eu voltei para meu trote. Voltando para a mutidão, passei a pela última vez no banheiro, sem fila nenhuma, assegurando que começaria a maratona com a bexiga zerada. Ao invés de ir lá para o final, aonde estariam os que iriam fazer a maratona em 5h (aonde meu número dava direito), fiquei próximo do pessoal de 4horas, achando que ninguém iria se importar com esse brasileiro a mais. Minutos antes da largada, todos já começam a tirar os casacos. Um corredor, que pelo biotipo achei ser europeu, jogou um casaco novinho em direção a um poste e ele ficou lá pendurado. O corredor vibrou com a certeza de que se ele não iria levar o casaco, quem fosse ficar iria ter dificuldade para catá-lo. Exatamente às 10:10h, após apresentação em um telão dos principais corredores candidatos a ganhar a maratona, que incluia um italiano campeão olímpico, um americano medalha de bronze em Atenas e o próprio Paul Tergat, ouvi o tiro de canhão que indicava a largada e em seguida a tradicional música "New York, New York". Todos aplaudiam aquele momento que certamente foi esperado e sonhado por pelo menos 38 mil pessoas nos últimos meses, me incluindo nesse número. Um avião da força aérea americana sobrevoou o local da largada, aumentando ainda mais a euforia coletiva.

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