Siga-me aqui!!

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Relato da maratona 3: a espera.

Às 6h da manhã (8h no Brasil) o frio estava para matar: algo em torno de 6 graus e o pior: vento. Eu lamentava terrivelmente o fato de ter ido apenas com o calção que ia correr, ao mesmo tempo que comemorava a camisa de mangas compridas, o casaco e as luvas de 5 dólares que tivera comprado no Central Park no dia anterior. Primeira coisa que tinha que fazer: tomar café da manhã. Eu sabia que em algum lugar haveria o tão esperado desjejum que provavelmente incluiria pão, gatorade, café, chá, iogurte, etc. Na primeira barraca que achei, entrei. Mais para escapar do frio do que para matar a fome. A barraca era pequenina, em torno de 15 x 15m e já estava cheia de corredores sentados, esperando. À direita da entrada, uma mesa onde, mais cedo, pelas caixas vazias notava-se que existira o tão sonhado café da manhã. Pensei com meus botões inexistentes: poxa, será que cheguei tarde?! Uma corredora magricela (aliás, as magrinhas são as mais danadas e furonas) na minha frente descobriu uma caixa de iogurte de morango embaixo da mesa, próximo de outros corredores que aproveitavam para matar o sono sem serem percebidos naquele lugar inapropriado para a soneca matinal. Ela pegou logo um iogurte e eu fui atrás, garantindo o meu, antes que acabasse novamente. Fiquei ali em pé (não tinha lugar nem para sentar), esperando que o japonês desistisse daquele cantinho de grama e que sobrasse um lugarzinho para eu repousar antes da largada. O japonês, também magricelo e com cara de primeiro lugar de vestibular continuava imóvel, sentado próximo de mim. Não sei se por opção para não gastar energia desnecessariamente ou se estava congelado só sei que, após uns cinco minutos, resolvi que ainda restava quase 4 horas até a largada e que não daria para eu ficar ali, dependendo de um japonês congelado. Decidi sair a procura de um lugar ao sol, que nesse momento não tinha nem nascido ainda. Lá fora o frio com vento continuava castigando, mas descobri que aquela barraca do japonês não era de maneira alguma a barraca do desjejum. Nem tinha como uma barraquinha daquelas alimentar 38 mil corredores famintos. Mais adiante, um americano da organização falava no microfone que na área verde (meu local de partida), a comida do café da manhã se encontrava em barracas atrás dos prédios, uns 200 metros adiante. Animei-me todo e quando virei a esquina, lá estava o que eu esperava, como um pote de ouro no fim do arco-íris: uma barraca de chá e café bem quentinhos, outras duas barracas só com pão, mais adiante a das barrinhas de chocolate (que eu preferi) e de outros sabores. Ao lado, a barraca dos médicos, toda vermelha, já que era patrocinada pelo Tylenol 8h. Aliás, eu aprendera dias antes que o acetoaminofen é o único analgésico recomendado para os maratonistas nas 48h que antecedem a maratona por não interferir na função renal (por isso que, como na maratona de San Diego que eu corri em 2005, o tylenol estava sempre indicado). Tomei um café com adocante e comi um pão. O frio não dava trégua. Decidi por outro café, mas prometi que seria o último, pois sabia que o efeito do café para mim era bastante diurético e o que eu menos queria naquela manhã era ter que parar durante a maratona para ir ao banheiro. Aliás, em frente a essa área, tinha pelo menos 50 banheiros químicos. Como não tinha fila nenhuma, aproveitei para ir a primeira de várias vezes no banheiro, antes da largada. Outra surpresa: na ausência de vento dentro do banheiro, criava-se ali um ambiente quentinho. Por um momento pensei: só saio daqui na hora da largada, mas, apesar de lentificar ao máximo o ato da micção para aproveitar a temperatura mais agradável ali, terminei saindo em busca de novos locais que pudessem me aquecer. Vocês devem estar se perguntando: e lavou as mãos?? A resposta é... não. Não tem torneira dentro do banheiro, mas tem uma espécie de sabonete líquido que você esfrega nas mãos e considera-as limpas. Eu queria ficar sentado, mas meu corpo queria se mexer para passar o frio. Encontrei o corredor de largada, dividido de acordo com os números dos corredores e descobri que meu número (43272) só me daria direito a largar lá na rabeira da fila (isso porque a divisão foi feita baseada no tempo de uma maratona anterior e eu tinha colocado a de San Diego que tivera terminado em 5h3min). Decidi que, caso fosse possível, eu iria lá para frente, próximo da galera das 4h, pois largar lá atrás iria me atrasar mais ainda para passar todos os corredores mais lerdos que eu. Ao lado do corredor, achei uma cabana que cortava um pouco o vento e que não tinha japonês deitado, logo, foi possível me sentar um pouco e ficar escutando o que os outros corredores falavam. Nada demais, exceto o que todo maluco maratonista fala: qual é o tempo que você vai terminar? Você já correu que outras maratonas? Etc. Arrependi-me de não ter levado nada para ler e fiquei ali desejando uma revista, um jornal, um gibi, até uma bula de remédio já serviria. Olhava com um olhar de desejo para outros corredores lendo o exemplar mais novo da "Runner's world" que só iria chegar para mim no Brasil no final do mês. Olhava também o exemplar do New York Times na mão de uma corredora, tentando adivinhar o meu tempo que estaria publicado no exemplar da segunda feira juntamente com os tempos de todos os que terminassem aquela maratona: tinha quase certeza que seria abaixo de 4h. Fiquei ali durante uns 30 minutos, até decidir ir novamente ao banheiro me livrar do café e em seguida procurar o local aonde iria acontecer a missa, marcada para as 8:15h. Já se aproximava das 7h e os raios de sol ainda eram tímidos. Três horas ainda me separavam da largada. Imaginava se Lúcia Helena e Natália ainda estavam dormindo no hotel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário