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quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Dica de quem já foi

A maratona se aproxima e eu estou especialmente temeroso em relação à temperatura. Tenho treinado diariamente em uma temperatura que varia entre 23-25 graus Celsius e a previsão é que no dia fique bem mais baixo. Erivan diz que isso pode até ser benéfico para mim, facilitando mais a corrida. Ele fala que a melhor maratona que ele correu foi no frio. Tenho procurado então experiências de outras pessoas que correram em New York e, navegando na internet, encontrei uma professora do departamento de Serviço Social da UFPE. Seu relato é bastante interessante e vocês podem ler abaixo (copiado com a autorização dela) .

"Domingo, 06 de novembro de 2005, às 10:10 da manhã, ao som da música “New York, New York”, foi dada a largada para mais uma Maratona de Nova York, uma das mais famosas provas do esporte mundial, que é acompanhada nas ruas da cidade por mais de 2 milhões de pessoas e pela TV, por centenas de milhares de expectadores no mundo todo. Eu estava lá, junto a 37 mil corredores de mais de 120 nações. Aquela era a jornada final de 06 meses de longos, árduos e solitários treinos no calçadão da praia de Boa Viagem.

Mais cedo, ainda na concentração, nas cercanias do “Fort Wadsworth”, no bairro de Staten Island, via-se nos rostos de homens e mulheres de diferentes idades, raças, etnias e religiões o êxtase de estarem ali. Os grupos de brasileiros rapidamente se formavam e a conversa, óbvio, era sobre as expectativas de tempo para completar a prova, planilhas de treinos, modelos de sapatos, suplementos nutricionais, relógios e toda a parafernália que a “indústria da corrida” pode criar.

Minutos antes da largada, vestida com o uniforme da seleção brasileira de futebol, para esconder o meu nervosismo, eu brincava com um grupo de alemães afirmando que no próximo ano adicionaríamos mais uma estrela à nossa camisa com a vitória do Brasil na Copa da Alemanha, contra os alemães!

Após o tiro de canhão dando a largada, a emoção tomou conta de todos, que tinham muitos quilômetros pela frente, cruzando 05 bairros e 05 pontes da “Big Apple”. A largada na cabeceira de uma das mais longas e altas pontes dos Estados Unidos, a “Verrazano-Narrows Bridge”, com uma vista de tirar o fôlego, era o prenúncio de que eu teria “the time of my life”.

Ao longo de todo o percurso, milhares de pessoas saudavam efusivamente os corredores. Muitas delas distribuíam água, frutas, doces, chicletes e até lencinhos de papel para enxugarmos o suor. Diversos grupos musicais de rock, rap, salsa, calipso, música escocesa e capoeira animavam nossa passagem. Os gritos de incentivos aos corredores, sobretudo, o “go Brazil”, e a alegria das crianças com os braços esticados para que tocássemos suas pequenas mãos vão ficar para sempre na minha memória.

Ao cruzar a primeira ponte, os corredores entraram no sul do Brooklyn, com suas desigualdades sociais e diferentes comunidades. Nos quase 20 quilômetros percorridos no bairro, passamos por ruas de brancos “caucasianos”, de latinos, afro-americanos e judeus. As áreas de classe média tinham ruas largas e arborizadas, e as pobres, sobretudo as negras, apresentavam casas em ruínas, becos sujos e estreitos.

Quando finalmente deixamos o Brooklyn, após cruzarmos a segunda ponte, passamos rapidamente pelo bairro de Queens, uma árida área industrial e de grandes armazéns. Saímos do bairro através de uma velha, longa, estreita e esburacada ponte de ferro, que passa por cima de uma ilhota, a Roosevelt Island, local do último filme de Walter Sales. Ao deixarmos a ponte, entramos pela primeira vez em Manhattan. Ao contrário do Brooklyn, Manhattan era a mais pura expressão da miscigenação da cidade de Nova York, “the melting pot”. Seguimos para o norte na Primeira Avenida. Este foi o trecho mais árduo da prova. A marca dos 30 quilômetros, conhecida como “a barreira”, aproxima-se. Por ter estudado bem o percurso da prova, sabia que quanto mais ao norte eu fosse, teria que voltar todo o percurso para a chegada no sul do Central Park. Foi uma felicidade receber da organização da prova neste trecho, além de água e isotônico, um suplemento de carboidrato em gel e esponjas ensopadas com água gelada para aliviar o calor dos cerca de 20º graus do outono de Nova York.

Ao final da Primeira Avenida, cruzamos mais uma ponte e entramos no Bronx. Para minha satisfação, o bairro negro tantas vezes noticiado e filmado mostrando a sua degradação, parecia ter passado por uma grande obra de restauração e continuava negro. Deixamos o Bronx também por uma ponte, desta vez a última, e mais uma vez entramos em Manhattan. Apesar de estar na Quinta Avenida, eu só pensava no calçadão da praia de Boa Viagem quando as sinalizações começaram a mostrar os quilômetros em contagem regressiva. Cinco quilômetros é apenas uma ida do Pina ao terminal de Boa Viagem. Eu dizia para mim mesma: “você fez esta distância tantas vezes, você vai conseguir”. Finalmente, ao entrar no Central Park, na altura do Guggenheim Museum, não pude mais conter as lágrimas. Fiz os últimos metros da corrida que era só alegria, satisfação, realização, contentamento. Difícil resumir em palavras. Uma maratona é isto e muito mais. Não importa o tempo. Não importa o cansaço. O que somente importa é que foram 42 quilômetros e 195 metros em Nova York!"
Roberta Uchôa

Nesse bem escrito relato de Roberta, consigo captar exatamente o espírito da maratona. Não sei se você também consegue (espero que sim), mas é esse espírito que tenho tentado passar escrevendo aqui nos últimos meses. Veja que é um momento mágico, um sentimento que já experimentei correndo no ano passado em San Diego; um momento de êxtase, de alegria, contentamento, de dever cumprido com um gosto de quero mais. Acreditem, se você tem vontade de correr uma maratona, por mínima que seja essa vontade, vá em frente e não se arrependerá. Se você pensa que apenas pessoas extraordinárias com um dom natural para a corrida podem fazer isso, está totalmente enganado. Pessoas comuns como eu e Roberta conseguimos isso e você também consegue, basta preparar seu corpo para tal.
O treino hoje foi modificado na última hora (ou será nas primeiras horas do dia, já que acordei às 4:47h?). Acordei meio com preguiça, o treino era de fartlek com 2minutos forte e 3minutos fraco. Mas mudei de última hora (perdão Erivan!). Não estava com vontade de correr forte, mas sim de correr continuamente. De olho no longão de domingo que vem, onde devo correr 21km para 5min25seg, fiz um treino em torno desse tempo (aliás, errei de ritmo e corri 10km para 5min13seg de média). Amanhã, vou repetir o treino de hoje e folgar no sábado (aliás, velejar no sábado).

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