Relato de maratona I - Ida para largada.

Como toda véspera de maratona, preparei todo o material, separando a roupa, a numeração, as meias, luvas, gorro (dessa vez, preferi correr com um gorro, apesar de saber que não sairia bem na foto) e fui me deitar por volta das 22h, com o alarme do meu relógio preparado para as 7:00h. Como já esperava, fiquei acordando a noite inteira, pensando que iria perder a hora. Acordei às 2:41, as 3, às 4h e enfim, às 7h. Preparei-me como programado, comi uns paezinhos (carbohidratos bemvindos) e saímos por volta das 7:40h. Já no elevador, começamos a encontrar corredores, inclusive o grupo de Belo Horizonte que encontrávamos todos os dias no café da manhã e que eram patrocinados pela prefeitura de BH. No hall do hotel, mais corredores e um grupo grande de espanhois. O frio parecia estar intenso e saí com a second skin, a camisa de mangas longas da maratona de NY e a corrida da Sportvida (essas eu não iria tirar) e mais uma de algodão distribuída na expo e o casaco por cima. Sem esquecer, obviamente, das luvas e do gorro. Decidimos ir andando, já que o Arco do Triunfo estava um pouco mais de 1km dali. No caminho, descobrimos que meu filho perdera uma das luvas dele e voltei no trote até o hall do hotel para ver se tinha caído. Não achei, mas vi mais e mais corredores saindo do hotel, inclusive um fantasiado de Superman. Na esquina, saindo do Palais de Congress, já dava para ver o Arco do Triunfo. Fui dando uns trotes, parava e alongava por enquanto que esperava minha esposa e filho. Dava mais um trote, parava novamente, até chegar no Arco e preparar para as primeiras fotos. Todos, obviamente, tinham tido a mesma idéia e estavam fotografando tudo. Depois das fotos, identifiquei a placa roxa que indicava os corredores que pretendiam correr em 3h 45min (minha meta). Ela estava bem lá na frente, antes da azul (3h30min) e depois da verde (4h). A Champs Elysées já estava tomada de corredores e faltavam só 10minutos. Decidi tirar o excesso de roupas. Minha esposa insistia que eu corresse com a calça, mas eu sabia que seriam necessários não mais que alguns minutos para aquecer e a calça seria desnecessária. Ainda tinha dúvida sobre a camisa de mangas longas, mas decidi mantê-la. Coloquei tudo na bolsa de costas, entreguei para minha esposa e me despedi, esperando vê-los no final, na Av Foch. Fui pela calçada para tentar chegar até a minha área de largada, mas não tinha como entrar lá. E o tempo passava. Tentei falar com um corredor que também ia para minha área e ele não falou nada, só depois descobri que era brasileiro e decidimos pular a cerca que separava a rua da calçada pois vários corredores estavam pulando. Examinei primeiramente e vi que era bem frágil e talvez não aguentasse, mas outras pessoas pulavam e uma espectadora francesa me incentivou a fazê-lo e lá fui eu. Pulei sem problemas, mas só no outro lado foi que entendi o perigo que passei: realmente era bem frágil e se quebrasse na hora que eu estava pulando, um dos arames iria furar minha perna e adeus maratona. Bem, nada aconteceu e agora eu já estava no local adequado. Faltava ainda esvaziar a bexiga. Os banheiros eram escassos e com filas enormes. Alguns corredores, faziam ali mesmo na rua, fora do banheiro e eu não contei conversa, fiquei de costa para os espectadores e mandei brasa (imagine, o frio de 4 graus). Posso dizer que fiz xixi em plena Champs Elysees e não fui preso por atentado ao pudor. Agora sim, estava pronto. Gravei algumas cenas na máquina e esperei. Escutei o tiro de largada e a multidão gritando. Só após cinco minutos andando é que cheguei na largada e pude iniciar a maratona. A essa altura, os quenianos já haviam corrido quase dois km. Vi os pacers (corredores pagos pela organização para correr com uma placa com o tempo alvo que iriam correr) e fique longo antes da turma de 3:30h, sabendo que aquele não seria meu ritmo, mas lembrando que os primeiros km eles saem com ritmo mais baixo devido à multidão e aí sim, seria meu ritmo. Como em Praga, o frio desapareceu completamente na medida em que me juntei à multidão.