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sábado, 29 de outubro de 2011

O médico e o monstro (2) no treino.

Sai hoje para mais um treino, desta vez regenerativo, preparatório para o longo de amanhã. Às 5:40 da manhã, por volta do km 5, atravessando uma avenida que, em outros horários, é bastante movimentada, vejo um único carro parado diante do semáforo vermelho. Nada estranho nisso, porém, quanto o semáforo muda para verde, o carro continua parado. Continuo correndo, achando aquilo bastante estranho. Meu lado médico logo fica alerta diante da possibilidade de algo errado estar se passando com o motorista. Sob comando do meu lado monstro corredor (esclarecimento: monstro não é usado aqui no sentido de performance, mas mais no sentido de louco mesmo!), continuo correndo. Mais 50metros e olho para trás: o carro continua parado diante do semáforo verde. O seguinte diálogo interno se passa entre meus dois eus:

Monstro: - olha o treino, mantem o foco, continua correndo.
Médico: - volta, volta, o cara pode ter tido um infarto ou ser diabético e estar em hipoglicemia.
Monstro: - que nada, ele vai já já acelerar. Espera. Olha o treino.
Médico: - volta rápido. Você pode fazer a diferença para esse motorista.

Como fiz o juramento de Hipócrates, mas não fiz nenhum juramento de maratonista, meu lado médico vence e começo a correr de volta em direção ao carro. O semáforo agora já está vermelho e um transeunte passa a faixa de pedestre e, como eu, observa que o motorista está com as mãos no volante, mas seus olhos estão fechados e sua cabeça pende para diante. Apresso o passo para chegar mais rápido, pois percebo que realmente algo fora do normal acontece. O lado monstro agora já se resignou e fica caladinho. Percebo que o pedestre toca levemente no antebraço do motorista e o chama. Um misto de pânico, diante da possibilidade de estar diante de um cadáver, e esperança de que ele esteja apenas tirando um cochilo, faz com que a voz do pedestre seja tímida e baixinha, como se pedisse: - "Para com isso. Abre os olhos". Antes que um carro no sentido contrário avance, apresso mais ainda o passo para chegar mais rápido na cena. Um motociclista que acaba de parar do lado esquerdo do carro percebe o que se passa e começa a buzinar também no intuito de acordar o sonolento motorista. De longe, já percebo que devo ser mais incisivo na tentativa de despertar o motorista. Chego ao carro e toco mais rispidamente no braço da vítima. Nenhuma resposta. O pedestre, com um suspiro aliviado, pergunta-me se eu conheço o motorista. Ao mesmo tempo que nego, enfio a mão dentro do carro para abrir a porta, já pensando na possibilidade de precisar fazer uma ressuscitação cardio-pulmonar ali em via pública. Quando a porta se abre, o motorista lentamente abre os olhos e faz uma cara de que não está entendendo nada. Só quando olha para frente e ver o semáforo, agora novamente aberto, é que ele entende o que se passou e fala um sonoro e exclamativo "Porra!?". Pergunto se está tudo bem e ele diz que sim. Fecho a porta e ele se vai sem dizer um obrigado, talvez com vergonha da situação. Cada um volta a sua rotina.
O lado médico está feliz por ter ajudado e aliviado pela situação ter sido a mais simples possível. E o monstro: "- Eu disse, eu disse, não era nada. Temos que focar no treino". Saímos todos sorrindo.

Um comentário:

  1. não adianta somos medicos 24 hs por dia a vida toda, corredores so somos nos intervalos.
    Bons treinos
    dalton

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